Este é meu portifólio. Sou professora de Língua Portuguesa e aqui você poderá ver meus trabalhos pedagógicos, atividades e projetos desenvolvidos com as minhas turmas de Ensino Fundamental e Médio. Fotos, textos e vídeos.
20 de mai. de 2015
19 de mai. de 2015
12 de mai. de 2015
Crônica
Ousadia
A moça ia no ônibus muito contente desta vida, mas, ao saltar, a contrariedade se anunciou:
– A sua passagem já está paga – disse o motorista.
– Paga por quem?
– Esse cavalheiro aí.
E apontou um mulato bem-vestido que acabara de deixar o ônibus, e aguardava com um sorriso junto à calçada.
– É algum engano, não conheço esse homem. Faça o favor de receber.
– Mas já está paga...
– Faça o favor de receber! – insistiu ela, estendendo o dinheiro e falando bem alto para que o homem ouvisse:
– Já disse que não conheço! Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando, o senhor não está vendo?
Vamos, faço questão que o senhor receba minha passagem.
O motorista ergueu os ombros e acabou recebendo: melhor para ele, ganhava duas vezes.
A moça saltou do ônibus e passou fuzilando de indignação pelo homem. Foi seguindo pela rua, sem olhar para ele.
Se olhasse, veria que ele a seguia, meio ressabiado, a alguns passos.
Somente quando dobrou à direita para entrar no edifício onde morava, arriscou uma espiada: lá vinha ele! Correu para o apartamento, que era no térreo, pôs-se a bater, aflita:
– Abre! Abre aí!
A empregada veio abrir e ela irrompeu pela sala, contando aos pais atônitos, em termos confusos, a sua aventura:
– Descarado, como é que tem coragem? Me seguiu até aqui!
De súbito, ao voltar-se, viu pela porta aberta que o homem ainda estava lá fora, no saguão. Protegida pela presença dos pais, ousou enfrentá-lo:
– Olha ele ali! É ele, venham ver! Ainda está ali, o sem vergonha. Mas que ousadia!
Todos se precipitaram para a porta. A empregada levou as mãos à cabeça:
– Mas a senhora, como é que pode! É o Marcelo.
– Marcelo? Que Marcelo? – a moça se voltou, surpreendida.
– Marcelo, o meu noivo. A senhora conhece ele, foi quem pintou o apartamento.
A moça só faltou morrer de vergonha:
– É mesmo, é o Marcelo! Como é que eu não reconheci! Você me desculpe, Marcelo, por favor.
No saguão, Marcelo torcia as mãos, encabulado:
– A senhora é que me desculpe, foi muita ousadia...
SABINO, Fernando. Ousadia. In: Para gostar de ler – Crônicas. São Paulo: Ática, 1981.
Atividades
1. Com relação ao gênero e a sua estruturação, responda: (D6, D7)
a) Qual é o gênero textual?
b) Qual é o tipo discursivo?
c) Qual é o domínio discursivo desse gênero?
d) Qual é a sua finalidade/função sócio-comunicativa/para que serve/objetivo?
e) Quais são as principais características?
2. Qual é o tema e o assunto do texto? (D1)
3. Onde se passa a história? (D2)
4. O que Marcelo considerou, no final, que foi muita ousadia? (D3)
5. Na frase “Abre! Abre aí!” (l. 29) o uso da exclamação sugere o que? (D21)
6. Qual é o conflito gerador do enredo? (D19)
7. Por que a moça se envergonha no final do texto? (D12)
8. Nos trechos abaixo coloque O para opinião e F para fato: (D10)
a) ( ) “A sua passagem já está paga.” (l.2)
b) ( ) “E apontou um mulato bem-vestido...” (l.5)
c) ( ) “Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando...” (l.11)
d) ( ) “Se olhasse, veria que ele a seguia...” (l.16)
e) ( ) “...foi quem pintou o apartamento.” (l.12)
Crônica
O que é:
Trata-se de um texto híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo, a crônica é o resultado da
visão pessoal, subjetiva, do cronista diante de um fato qualquer, colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. Quase sempre explora o humor; às vezes, diz as coisas mais sérias por meio de um aparente conversa fiada; outras vezes, despretensiosamente, faz poesia da coisa mais banal e insignificante.
Registrando o circunstancial do nosso cotidiano mais simples, acrescentando, aqui e ali, fortes doses de humor, sensibilidade, ironia, crítica e poesia, o cronista, com graça e leveza, proporciona ao leitor uma visão mais abrangente, que vai além do fato; mostra-lhe, de outros ângulos, os sinais de vida que
diariamente deixamos escapar da nossa observação.
ATIVIDADE DE ESCRITA: Listar os temas do dia a dia, escolher um e elaborar uma crônica.
A crônica: fazendo história
A crônica é um dos mais antigos gêneros jornalísticos. A princípio, com o nome de folhetim,
designava um artigo de rodapé escrito a propósito de assuntos do dia – políticos, sociais, artísticos, literários.
Aos poucos foi se tornando um texto mais curto e se afastando da finalidade de se informar e comentar, substituída pela intenção de apresentar os fatos do cotidiano de forma artística e pessoal. Sua linguagem tornou-se mais poética, ao mesmo tempo em que ganhou certa gratuidade, em razão da ausência de vínculos com interesses práticos e com as informações veiculadas nas demais partes de um jornal.
De seu surgimento aos dias atuais, a crônica ganhou prestígio entre nó e pode-se até dizer que
constitui um gênero brasileiro, tal a naturalidade e originalidade com que aqui se desenvolveu.
Características
. Apresenta uma visão pessoal do assunto escolhido.
. Há elementos narrativos básicos.
. O texto é curto e leve.
. Diverte e/ou promove uma reflexão sobre o assunto.
Deu branco
“De notícia e não notícias faz-se a crônica”, afirmava o poeta Carlos Drummond de Andrade. E
quando nenhum assunto acorre à mente do cronista? O jeito é transformar em assunto a falta de assunto...
Muitos cronistas já se queixaram em suas crônicas da falta de assunto, do famoso “branco” que os acomete, certamente consequência do fato de a maioria das crônicas ser uma obrigação semanal que seus autores devem cumprir e, portanto, não podem deixar para escrever em momento de inspiração. A arte do cronista, então, passa a consistir em fazer do seu problema uma solução: dando “branco”, escreve-se sobre o “branco”.
Adaptado do PIP - Anos finais -SRE Curvelo
6 de mai. de 2015
5 de mai. de 2015
Conto
Continuidade
dos Parques
Júlio
Cortázar ( 1914 - 1984 )
Havia começado a ler o romance uns dias antes.
Abandonou-o por negócios urgentes, voltou a abri-lo quando regressava de trem à
chácara; deixava interessar-se lentamente pela trama, pelo desenho dos
personagens. Essa tarde, depois de escrever uma carta ao caseiro e discutir com
o mordomo uma questão de uns arrendamentos, voltou ao livro com a tranquilidade
do gabinete que dava para o parque dos carvalhos. Esticado na poltrona
favorita, de costas para a porta que o teria incomodado com uma irritante
possibilidade de intrusões, deixou que sua mão esquerda acariciasse uma e outra
vez o veludo verde, e começou a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha
sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a ilusão romanesca
ganhou-o quase imediatamente. Gozava do prazer quase perverso de ir
descolando-se linha a linha daquilo que o rodeava, e de sentir ao mesmo tempo
que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto encosto, que os cigarros
continuavam ao alcance da mão, que mais além das janelas dançava o ar do
entardecer sob os carvalhos. Palavra a palavra, absorvido pela sórdida
disjuntiva dos heróis, deixando-se ir até as imagens que se combinavam e
adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana da
colina.
Antes entrava a mulher, receosa; agora chegava o
amante, com a cara machucada pela chicotada de um galho. Admiravelmente ela
fazia estalar o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não tinha
vindo para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo
de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal se amornava contra seu peito e
por baixo gritava a liberdade refugiada. Um diálogo desejante corria pelas
páginas como riacho de serpentes e sentia-se que tudo estava decidido desde
sempre. Até essas carícias que enredavam o corpo do amante como que querendo
retê-lo e dissuadi-lo desenhavam abominavelmente a figura de outro corpo que
era necessário destruir. Nada havia sido esquecido: álibis, acasos, possíveis
erros. A partir dessa hora cada instante tinha seu emprego minuciosamente
atribuído. O duplo repasse, sem dó nem piedade, interrompia-se apenas para que
uma mão acariciasse uma bochecha. Começava a anoitecer.
Já sem se olharem, atados rigidamente à tarefa que
os esperava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho
que ia ao norte. Do caminho oposto, ele virou um instante para vê-la correr com
o cabelo solto. Correu, por sua vez, apoiando-se nas árvores e nas cercas, até
distinguir na bruma do crepúsculo a alameda que levava à casa. Os cachorros não
deviam latir e não latiram. O mordomo não estaria a essa hora, e não estava.
Subiu os três degraus da varanda e entrou. Do sangue galopando nos seus ouvidos
chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois um longo
corredor, uma escada acarpetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro
quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e depois o punhal na mão, a luz
das janelas, o alto encosto de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem
na poltrona lendo um romance.
Responda
as perguntas em folha separada.
1.
Podemos
dizer que é um conto de mistério? Por quê?
2.
Que
tipo de narrador você identifica na história?
3.
Quais
os espaços da narrativa?
4.
Quem
são os personagens da história que o leitor lê? O que eles tramavam?
5.
O
que representava o punhal para eles?
6.
Esta
é uma história dentro da história. Justifique a afirmativa.
Características do conto:
O conto caracteriza-se por ser uma narrativa curta, na qual o espaço e o tempo são reduzidos, como também apresenta poucos personagens.
No conto a trama é linear, objetiva, pois o conto, ao começar, já está quase no fim e é preciso que o leitor "veja" claramente os acontecimentos. Se no romance o espaço/tempo é móvel, no conto a linearidade é a sua forma narrativa por excelência.
Características do conto:
O conto é uma obra de ficção que cria um universo de seres, de fantasia ou acontecimentos. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.
O conto caracteriza-se por ser uma narrativa curta, na qual o espaço e o tempo são reduzidos, como também apresenta poucos personagens.
No conto a trama é linear, objetiva, pois o conto, ao começar, já está quase no fim e é preciso que o leitor "veja" claramente os acontecimentos. Se no romance o espaço/tempo é móvel, no conto a linearidade é a sua forma narrativa por excelência.
Focos narrativos[editar | editar código-fonte]
- Primeira pessoa: Personagem principal conta sua história; este narrador limita-se ao saber de si próprio, fala de sua própria vivência. Esta é uma narrativa típica do romance epistolar (século XVIII).
- Terceira pessoa: O texto é narrado em 3ª pessoa e neste caso podemos ter:
-
- a) narrador observador: o narrador limita-se a descrever o que está acontecendo, "falando" do exterior, não nos colocando dentro da cabeça da personagem; assim não sabemos suas emoções, ideias, pensamentos; o narrador apenas descreve o que vê, no mais, especula;
- b) narrador onisciente: conta a história; o narrador tudo sabe sobre a vida das personagens, sobre seus destinos, ideias, pensamentos; como se narrasse de dentro da cabeça delas.
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